Em busca de um instrutor
Eloisa Vargas
Estar "em forma" na ótica da ginástica é uma coisa bem diferente do "estar em forma" na visão do Yoga. Yoga não é ginástica e isto deve ser entendido antes de começar. Existem mil maneiras de praticar a parte física do Yoga mas nenhuma destas maneiras é ginástica.
Se você pretende praticar o Yoga de uma forma verdadeira, certifique-se de que o instrutor que você escolheu é a pessoa capacitada para orientá-lo neste contexto.
Se você é iniciante e quer aprender , deve procurar um instrutor de Yoga que ensine as poses (ásanas) na forma ou estilo que mais sintonize com você pois os estilos são muitos. Faça algumas aulas para aprender as poses e os fluxos. Se o instrutor não for bom no suporte filosófico, e você se interessa por esta área, leia sobre o assunto, busque, pesquise. Procure trocar de instrutor até que descubra aquele que será o melhor para você.
Saiba que muitas vezes o nome Yoga é usado para coisas que nem sempre condizem com os princípios do Yoga. O fato das academias oferecerem esta prática como uma "ginástica diferente" ou como uma alternativa para os que enjoaram da malhação pura e simples, por um lado ajuda a trazer uma imagem de um Yoga mais dinâmico, mas por outro, acaba por corromper a sua essência.
Mas ainda assim acredito que isto não seja motivo suficiente para que se estabeleça um sistema de fiscalização oficial no Yoga pois apesar destes enganos, a pessoa que nasceu para o Yoga sabe a diferença e não compra gato por lebre. Alguns perdem um pouco de tempo pelos caminhos errados mas um dia, encontram um instrutor sincero com o qual se harmonizam dentro do estilo que lhes é mais apropriado. Embora não haja motivos suficientes para que esta prática seja "fiscalizada", creio que existe uma forte tendência à abertura de núcleos de ensino para formação e apoio aos instrutores dentro dos princípios básicos da essência do Yoga.
Estes princípios são simples e não devem ser objeto de puro intelecto uma vez que Yoga é simples, não está vinculado a nenhum sistema de crenças e nem mesmo exige que se estude a sua filosofia uma vez que é, essencialmente, uma questão de prática. Nenhuma corrente filosófica serve de suporte ao Yoga e sim, o contrário. Pattabhi Joes refere-se ao lado teórico filosófico do Yoga com grande sabedoria quando postula o seguinte:
" Yoga é noventa e nove por cento prática e um por cento teoria. Para aquele que não pratica, a teoria é inútil, para aquele que pratica, ela é óbvia."
Creio que a preocupação fundamental na transmissão do Yoga por parte dos instrutores dos ramos derivados do hatha yoga deverá basear-se em dois pontos:
1) Fazer com que o aluno entenda que Yoga não é ginástica e não é terapia, embora o faça como conseqüência e não como objetivo.O objetivo único do Yoga é a iluminação.
2) Trabalhar intensamente na correção da postura e dos
desalinhamentos que provocam desequilíbrios a fim de que os asanas sejam praticados com perfeição.
Para que o aluno entenda que Yoga não é ginástica, existe o Astanga Yoga de Patanjali - o código de ética e prática do Yogue que deverá ser mostrado e compreendido na experiência viva do momento da prática. No Hatha-Yoga-Pradîpikâ (4.102), o mais popular manual dessa escola, este item é esclarecido na seguinte citação:
" Todos os meios do Hatha Yoga têm como fim a aquisição da perfeição no Râja-Yoga. "
Para que possam corrigir sua postura e adquirir alinhamento e equilíbrio, é necessário que o instrutor conheça e aplique leis da biomecânica até que o aluno adquira a habilidade de descobrir o equilíbrio e o alinhamento através da ação inteligente e natural do próprio corpo.
Em hatha yoga, que é o caminho do Yoga que utiliza o corpo como base para a iluminação, o alinhamento perfeito será desenvolvido naturalmente através do treinamento, dedicação, paciência e perseverança. Com o tempo e a prática, este trabalho físico através dos asana começa a atingir a mente abrindo caminho para a consciência do espírito. Embora todos fiquem "em forma" externamente, não é este o objetivo. O que se chama de "boa forma", saúde etc., é apenas condição para outras coisas que são a essência do Yoga.
O instrutor que segue os preceitos básicos do Yoga será abençoado pelos mestres ancestrais e jamais desvirtuará ou corromperá a prática. Esta é a ética da transmissão de um conhecimento ancestral que bem sabemos, em parte, é herança kármica e que por isto, está muito longe de ser compreendido ou administrado através de leis humanas. E é por isto que o verdadeiro Yoga deverá continuar livre de qualquer fator que possa restringi-lo ou tentar aprisioná-lo em um conjunto de regras, direitos e deveres. Isto não é necessário e o praticante sincero sabe disto.
Acredito que existe um princípio de troca na "transmissão do conhecimento do Yoga" e é dentro deste princípio que pratico e ensino: se você respeita as bases do Yoga, os mestres ancestrais estarão contigo e te ajudarão a transmitir o que pode e deve ser transmitido. Acredito ser esta uma função kármica e que o instrutor não pode tentar fazer disto, apenas uma profissão. Penso que seja um grande erro e com conseqüências sérias a manipulação do Yoga através de leis e regulamentações. Uma faculdade jamais poderá produzir um yogi e sei que todo o instrutor honesto há de concordar neste ponto. Quando ensinamos, não estamos à serviço de nada a não ser do próprio Yoga. Se cumprirmos e honrarmos nossa obrigação , as energias dos mestres ancestrais nos guiarão pois estarão sempre ao nosso lado.
É difícil tentar abordar este assunto por este ângulo considerado "místico" numa época onde grande parte dos instrutores, responsáveis pela transmissão desta sabedoria milenar, tornam-se materialistas ao ponto de tentarem transformar o Yoga em objeto de consumo.
Mas saiba que o verdadeiro Yoga não está perdido e você poderá reconhecê-lo não através da mídia e nem de prédios e aparatos elegantes que abrigam as escolas atuais. O verdadeiro Yoga está presente no desapego, na humildade e na sinceridade daqueles que o transmitem e praticam e esses valores são verdadeiros e incorruptíveis.